quarta-feira, 25 de maio de 2011

ALEXANDRE IVO....MORTO POR HOMOFOBIA.


O grito extravasou em euforia, alegria e celebração! Gol! Alexandre e amigos comemoravam a vitória do Brasil no jogo contra a Costa do Marfim pela Copa do Mundo da África do Sul, como muitos outros garotos de 14 anos faziam em São Gonçalo e no país inteiro após aquele jogo. Diferente da maioria desses jovens, no entanto, Alêxandre era… Alêxandre era um bom aluno na escola, um adolescente tranquilo e que até participava de atividades em uma igreja, o que nos deixa com uma imagem bem afinada ao que as pessoas entendem como um bom jovem. Ah, Alêxandre também era consciente da necessidade da luta diária contra a homofobia. Isso, convenhamos, é uma qualidade raríssima em garotos de sua idade, e alinha a imagem de Alêxandre a um bom jovem exemplar para muitos gays, sendo ele próprio gay ou não, o que não vem ao caso.
Na ocasião da festa de comemoração, um outro grupo de amigos envolveu-se com o de Alê em uma briga. Alêxandre e seus amigos então foram à 72ª Delegacia de Polícia, em São Gonçalo, para registrar uma queixa por agressão. Eles retornaram à festa após isso, e, por volta das 2:30, Alê esperava um ônibus, no bairro do Mutuá, para voltar para sua casa, quando foi visto vivo pela última vez.
Os fatos são que às 10h da manhã de segunda, dia 21/06/2010, seu corpo foi encontrado em um terreno baldio no Jd. Califórnia, com sinais de espancamento, tortura e estrangulamento, e o IML informou também que sua morte se deu por volta das 4h, o que nos permite concluir que Alexandre sofreu por pelo menos 1 hora e meia nas mãos daqueles que o mataram. Segundo ligações ao disque-denúncia, um veículo branco foi visto no local do sequestro, e segundo amigos de Alê, o mesmo carro teria rondado o cemitério durante o enterro. Os amigos de Alê relatam também que os jovens desse grupo rival pertenciam a um grupo de “skinheads”, com a prática de usar redes sociais para propagar mensagens de intolerância.
Mas isso são os fatos. Esses dados serão matéria de investigações da polícia, e, com alguma esperança, das mídias que tiverem vontade de denunciar esse grave quadro de violência e homofobia. Sim, homofobia, que independe de Alê ser gay, hétero ou bi ou não saber isso ainda, já que o que assombra essa história é a motivação intolerante do crime. Os fatos e dados não racionalizam as lágrimas sentidas da mãe de Alê, que me comoveram no vídeo da reportagem. Eles não dão conta de expressar também a angústia, os olhos cheios de lágrimas e a garganta apertada que me tomaram, por exemplo, quando vi as mensagens dos amigos de Alê no Orkut, ou o texto que ele usava em seu perfil, extraído do discurso de Pedro Bial no BBB 10 pela eliminação do participante Serginho. Esse discurso, aplicado ao jovem Alê, se resignifica e me assassina de dor:
É Peter Pan, a criança que não cresceu e sabe voar. Quer aprender? Quer voar? Pense numa coisa boa, pense numa coisa bem boa. É só pensar em coisa boa que a gente voa. Pense numa coisa bem linda, que você nem viu ainda. Num raio de luar, que você vai voar Peter Pan, sombra na parede da caverna de Capitão Gancho. Travessura? Espectro? Imagem só? Será? Não é possível. É ele… Pan… Está lá? Lá? Ele está? De que lado ele está? É só pensar em coisa boa que a gente voa. Se pensar em coisa ruim? Bom! Pode até chegar ao fim!
Alê não irá mesmo crescer jamais, e será sempre um jovem, que sabia voar. Pensando em uma coisa boa, um mundo melhor, ele, com seus 14 anos, tinha uma consciência que muitos de nós levamos décadas para formar, e que a grande maioria ainda não construiu ou vai construir. Ele não acreditava que esse mundo melhor fosse apenas uma ilusão e lutava por isso. Alê era companheiro do Grupo Gay Atitude e fazia parte da organização da Parada Gay da cidade, segundo informações do próprio Grupo Atitude, colhidas em listas de e-mail e Twitter.
Por que Alê foi assassinado? Nós não sabemos com detalhes, e eu estou certo de que bons advogados saberão “preservar os direitos dos agressores” (o que não significa “dizer a verdade e ter punições justas por isso”, mas “mentir para não ser punido”), como aconteceu com os assassinos de Isabela Nardoni e João Hélio, crianças que ganharam a comoção do Brasil, que não sei se o jovem Alexandre Ivo também vai ganhar, porque era gay, ou pelo menos subentendia-se que era. Não sei se o Brasil irá se comover com a morte dele, e isso me retalha por dentro, porque o que temos para os gays no Brasil é o Eduardo Cunha com seu projeto para proteger os heterossexuais da discriminação e “assegurar o direito de ser normal”; os livros didáticos de ensino religioso com suas mensagens homofóbicas, denunciadas em pesquisas da UNB; o Silas Malafaia e suas constantes equiparações entre homossexualidade e pedofilia; a Revista Veja com suas mensagens de que vivemos uma era de tolerância em que o preconceito não existe; Carlos Apolinário tentando tirar a maior Parada Gay do mundo da vista de todos; ou o Marcelo Crivella e seus delírios sobre uma ditadura gay no Brasil.
Na verdade, eu sei sim por que Alexandre Ivo foi assassinado. Está aí a ditadura que temos no Brasil, e ela, definitivamente, não é gay. Ela é homofóbica. Ela mata. A cada dois dias, segundo o Grupo Gay da Bahia, um homossexual é morto no Brasil por causa da homofobia. E não temos uma legislação competente contra crimes de ódio ou contra a difusão dessa intolerância nos meios de comunicação e nas instituições, que é a verdadeira assassina, posto que joga veneno no rio da cultura e nos sufoca com uma mortalha de séculos de idade. Nós, os pecadores, doentes, criminosos, imorais, sujos, rejeitados, humilhados, ridicularizados, mortos. Eu também me sinto morto agora.
O curso esperado dos fatos, nessa realidade que desilude, é esperar que a impunidade vença, que os políticos e líderes homofóbicos continuem tripudiando de nossa dignidade para criarem para si o status de arautos contra a imoralidade, enquanto outros tantos líderes e políticos dão de ombros para nós e oferecem-nos migalhas achando que fazem muito.
Mas isso precisa ter um fim, e precisamos urgentemente fazer com que isso tudo não resulte no curso esperado dos fatos, mas no curso ideal, justo.
Que a justiça seja feita, e não se restrinja à punição dos culpados.
Que, como Matthew Shepard, nos Estados Unidos, Alê não tenha morrido em vão e sua morte denuncie a violência diária à qual estamos sujeitos diariamente, encerrando os infindáveis debates sobre a inquestionável necessidade de leis contra os crimes de ódio.
Que sua morte abra nossos olhos para a necessidade de termos mais jovens conscientes como ele, e adultos com um pouquinho mais de boa vontade de aderir à causa LGBT e levantar bandeiras.
Que este Manifesto de Luto e Luta por Alexandre Ivo marque o nascer de uma nova consciência para todas as pessoas, homossexuais ou não, do Brasil e do mundo.

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