quarta-feira, 11 de julho de 2012

Igreja é palco para ritos exorcistas...

Esperança, fé, busca por cura e alívio de dores físicas ou psíquicas, libertação de maus espíritos e até mesmo um pouco de curiosidade levaram centenas de fiéis a lotarem a Igreja de Bom Jesus das Dores, na Ribeira, na noite da última segunda-feira (9). Durante quase três horas, o grupo viveu a experiência de participar, pela primeira vez na capital do Estado, de uma missa com orações de exorcismo.
 
  A cerimônia estava marcada para começar às 19h. Mas bem antes disso, era impossível encontrar um lugar para sentar. Vindos de vários bairros da cidade, os fiéis se aglomeravam entre os bancos do templo. Homens, mulheres, jovens, crianças e idosos. O público é eclético. Em comum, a fé. À frente dos fiéis, o padre José Mário, nomeado  exorcista, há cerca de 10 anos, pelo então arcebispo de Natal, Dom Heitor de Araújo Sales.

  Antes do padre subir ao altar, um assistente avisa ao público estreante no ritual pouco difundido entre os católicos: "Rezem com força e fé que o Espírito Santo vai agir nessa noite. Não se preocupem com o que vai acontecer. Não é motivo de escândalo. Fiquem tranquilos", disse João Santana. O público, até então, não sabia, mas João teria papel fundamental no ritual. O aviso dado por ele seria repetido novamente pelo próprio padre antes da oração de exorcismo.

  O grupo de música entoa o canto inicial. Padre José Mário tem dificuldade de fazer o percurso entre a sacristia e o altar. Atentos, os fiéis acompanham cada passo. A expressão no rosto dos católicos demonstra expectativa e ansiedade pelo o que vai acontecer. A cerimônia de exorcismo é realizada, todo primeiro domingo de cada mês, no Eremitério do Santo Lenho, situado numa área da granja Canaã, à margem da BR-101, em Macaíba. Mas a igreja de Bom Jesus das Dores nunca havia sido palco do rito. Por isso mesmo, o padre faz questão de explicar cada etapa da cerimônia.

  A conversa preliminar gira em torno de um assunto que possivelmente foi a razão da presença de muitos no lugar: depressão. "Se eu pedisse pra quem tem depressão levantasse o braço, tenho certeza que pelo menos a metade de vocês levantaria", disse.  Em seguida, o padre convida para uma oração de pedido de perdão. "É preciso pedir perdão a todos que, de alguma forma, nos fizeram algo que nos irritou", completou.

  Em uníssono, a assembleia canta mais um canto de louvor. Nesse momento, João Santana, vestido com uma bata franciscana, assume o microfone e o controle da cerimônia. "Cadê Carla? Pode vir aqui para frente", diz em tom meio impositivo. Do lado esquerdo do altar, surge uma adolescente vestida com uma farda escolar. Receosa, ela se aproxima do altar. Santana coloca as mãos na testa da menina. Ao redor dela, outras pessoas fazem orações.

  Uma, duas, três vezes. As mãos são retiradas e postas com força na testa. Nada acontece. A menina é dispensada. João Santana anda no meio da igreja e escolhe outras pessoas. Enquanto isso, os fiéis observam cantando. Alguns choram, outros levantam fotos de familiares. A imposição das mãos acontece com mais de uma dezena de mulheres. Todas desmaiam ou, como classificam os católicos, "repousam no espírito". Uma delas é a estudante Carla Anzabra, 20 anos. "É impossível descrever a sensação", diz.

  O assistente do padre volta ao altar junto com o grupo que o ajudou fazendo orações de intercessão em línguas. O padre explica que vai começar mais uma etapa da cerimônia. Uma espécie de ladainha com nomes de santos é entoada. Na sequência, reza-se a oração do Credo. "Agora é que vamos, de fato, realizar a oração do exorcismo. Se virem alguma coisa, sentirem algo, não se preocupem. Isso é bom, quer dizer que Deus está agindo. Não é motivo de escândalo e ninguém venho perder tempo aqui", afirma. José Mário pede que todos fiquem de joelhos, segura um crucifixo e faz a leitura da oração que está no livro de "Ritual de Exorcismo e Outras Súplicas". Na oração, palavras como "sai", "afasta-se", "desconjuro" e algumas outras em latim.

  Não há manifestações no templo. Diferente do que alguns curiosos poderiam esperar, ninguém se contorceu, falou em línguas estranhas ou se jogou no chão. A oração de exorcismo está encerrada. O dirigente espiritual prossegue com a celebração da missa. "As religiões têm algo em comum. No fundo, o que se chama de 'satanás', 'entidade', 'encarnou', no final das contas, só não é a presença de Deus. E a maior vitória de Satanás é fazer com que as pessoas acreditem que ele não existe", diz o padre.